sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

QUANDO O IMPOSSÍVEL É O ESPERADO...


As palavras só andam em bando e eu, sozinha comigo mesma... Eu ando em silêncio, mas não confundir com introspecção ou tristeza. Eu ando contemplativa. E a beleza é tanta que eu não descobri a palavra certa de dizê-la. Nem sei se há.

Disseram que quando eu crescesse, ia mudar, mas as pessoas costumam dizer possibilidades com ares de fatalidade. Eu não. Eu busco o surpreendente inevitável. Pois: disseram que quando eu crescesse, trabalhasse, pagasse imposto, virasse mãe, tivesse estria, pintasse o cabelo e comprasse o guarda, aquele meu ar de sonhadorazinha ia sumir. Ia afogar-se em suas próprias vontades. Eu devo ter complexo de Benjamin Boton. Ou então, os anjos que me regem continuam gargalhando quando fazem cosquinha em suas asas. Deu tudo errado nas previsões alheias. Por isso,enfim, deu tudo certo.

Foi depois do estilista me olhar torto que eu me senti mais bonita. Foi depois que me chamaram de boba que achei bobinho quem me viu assim. Foi depois dos ateus me olharem com pena que senti mais Deus agindo na minha vida. Foi depois de ter férias que gostei mais de professorar. Foi depois de ver a maldade que quis me estruturar no que entendo por bondade. Foi, em suma, depois de muita confusão caótica, que meus olhos captaram a regência da simplicidade.

E agora, depois de tão adulta, me orgulho de ser infantil. Após tantos palavrões soterrados, ando puxando a corda das palavrinhas, para que elas possam respirar um pouco.

Parece que a maturidade se decepcionou comigo... Porque cada vez mais, gosto de não ser esperta, de não ser malandra. Eu quero mesmo é o gozo de quem não entende a piada! O prazer de quem olha pros dois lados da rua antes de atravessar, e, em compensação, vai dançando até o canteiro.

Há um silêncio gostoso me rondando. Um silêncio de bebê dormindo. Um silêncio de mãe contemplando. As palavras andam mamando na minha tranquilidade. E eu ando deixando-as cá dentro de mim por puro egoísmo. Mas foi depois de me trancar no espelho, num egoísmo bicudo que aprendi a quebrar desejos, e transformá-los em sonhos - deixando um pedaço em cada coração que por ventura eu perceba a pulsar...

Samelly Xavier, procurando ser "instrumento de Vossa paz..."

(Dedico este texto a Elvis Aaron Porto, ex-aluno, permanente sonhador, que me fez feliz ao ler seu e-mail tão sensível)

13 Comments:

Anônimo said...

Lindo! Vada palavra me chegou com um força tão assombrosa que me assutei.
Difícil foi conter as lágrimas ao fim do texto.

Anônimo said...

tun tun tun tun tun tun...

[coracao pulsando]

Sidney Andrade said...

"Se e que isso vai te deixar feliz"
Condicional improvavel. Como tua escrita nao me deixaria feliz?

Te parafrasenado: me disseram que quando eu crescesse, iria mudar. De fato, mudei, so nao sei se cresci. Pressa e mal de estreias. Mas nem todo mal eh de todo mal... Veja minha cegueira, por exemplo. No mais, nao dizem que eh errando que se acerta? Talvez acerte ainda insistindo no mesmo erro.

Minha vantagem nas minhas tentativas (quase)fracassadas, eh que tem voce comigo sempre. Desse jeito fica ate gostoso errar.

Beijo, poliamor.

Anônimo said...

Não foi difícil segurar as lágrimas no final do texto, porque eu nem tentei segurá-las. Deixei que fluíssem livremente por meu rosto, afinal, chorar faz bem, especialmente quando não se chora por dor, mas por felicidade. Que minhas lágrimas de alegria sejam os fogos de artifício na comemoração de cada sonho meu que for realizado — fogos bem menos barulhentos, é certo, mas muito mais belos.
Beijos Samelly.
Estarei sempre aqui, lendo todos os seus textos.
Elvis Aaron Porto.

Maria said...

Ainda bem que a maturidade te deixou! Faz alguns dias que aceitei ser gente grande, sabe? Mas só no dia que percebi que não precisava ser igual aos crescidos que eu conheci em minha vida. Alívio eu senti por poder crescer sem perder o que há de bom em mim!

Belo texto ^^

Beijo meu

Unknown said...

=D
adoro quando tu escreve assim...
tava inspirada einh mozão?

xero!

Anônimo said...

Silêncio de quem reflete belas palavras.

Unknown said...

Como bem sabes...não gosto de legar vestígios públicos materiais, por isso liguei, mas, para variar...não estavas.
Ao contrário de mim, SEMPRE deixas vestígios SEMPRE belos e marcantes na minha vida e, por isso, SEMPRE te acompanho de longe e, de tempos em tempos, venho e me exibo SEMPRE orgulhoso de ter SEMPRE, em minha alma, vestígios ÍNTIMOS E ETERNOS da tua.

Perto de Mim said...

Leio, leio e leio!
Adoro ler você.
:) Parabéns, ganhou uma fã,

Giuseppe Menezes said...

Olá, Samelly! Obrigado pela visita. Não conhecia seus escritos, mas gostei muito. Parabéns por tudo!

Anônimo said...

O prazer de quem olha pros dois lados da rua antes de atravessar, e, em compensação, vai dançando até o canteiro.
ficou muito tua cara (e isso nao é óbvio so pq foi vc que escreveu)
e eu te acompanho (quanto ao texto passado)


ps: teu dia devia ter mais que 24 horas. :~

André Badé said...

Quis deixar de ser criança para ser adulto.
Nesse passagem eu perdi a Rosa, como senti falta dela...
Não tardou dei todo o dinheiro que havia no meu bolso, botei toda a fé no meu santo e, principalmente, li aquele poeminha de amor.
Rosa voltou com seu coração enorme e agora eu sou mais eu.

Bárbara said...

pela primeira vez não me senti culpada por ser assim, nada madura....
obrigada .