quinta-feira, 25 de março de 2010

QUEM É VOCÊ PARA PERGUNTAR QUEM SOU EU?

Por, literalmente, muitos anos este poema foi meu "quem sou eu" no Orkut. Engraçado como um simples site de relacionamentos (seja lá o que isso queira dizer) faz todo mundo se transformar num pós-socrático: quem sou eu? A pergunta é: quem é você para perguntar quem sou eu?

Graças a Deus, sigo a máxima "a única coisa que nunca muda na natureza é que ela sempre muda", assim, por mais clichê que seja a ideia da metamorfose ambulante, hoje me sentei no divã (filme e livro fantásticos) e me descobri outra (s). Vai quem eu era e poderei voltar a ser quando quiser/puder.

Em tempo: agradeço à tv Paraíba pela iniciativa da matéria sobre como lançar livros e por terem lembrado de mim (risos). Foi ao ar segunda-feira com uma verdadeira trindade: Sidney Andrade (por mais estranho que seja chamá-lo assim...) e sua fertilidade blogueira; Thiago Lia Fook com seu itinerário lírico prestes a desabrochar para nossa alegria poética e Flaw Mendes e sua indescritível (e indiscutível) capacidade de transformar arte em mais arte. Pra quem assistiu, viu que ao repórter me perguntar sobre por que estou indo para o meu quarto livro, reiterei um posicionamento defendido nuns post's passados: para que o leitor se assuste se identificando com minhas letras, mais até do que para ser "reconhecida". Em tempo ainda: peço desculpas públicas à Mirtes por não ter podido (questões pessoais e inadiáveis) ter ido à FLIBO. Que foi um sucesso, já era esperado. A vida nos reservará outras oportunidades.

Vamos ao poema do meu ex-quem sou eu...


Eu sou sempre outra
Sempre vou além de mim
Eu sou coisa, gente, bicho
Sou o que sinto, e não tenho fim

Eu NÃO sou a mulher da sua vida
A nora dos seus sonhos
A filha que se pede a Deus
A melhor amiga que uma pessoa pode ter

Eu sou. E isso basta para quem se abastece de mim

Eu sou alada
Metade cavalo, metade arqueiro
Meu sagitárius é pisciniano
Tenho uma asa e um pé de chumbo,

Sou a peixinha esquecida nadando contra a maré.
Para quê? “Para achar a solução”
De quê? Quando eu descobrir a solução, eu descubro o problema...

Eu sou levada. Feito criança. Como vento
Eu não sou palavra, eu sou pensamento
Eu sou uma mistura de diamante com dinamite

Quando nasci, descobri que morreria
E enquanto não morro, nasço, de novo todos os dias

Às vezes, mais absurda que entendível
Às vezes, mais liberdade que prisão
Às vezes cansaço, outras vulcão
Se sou “moça falada”,
Me sinto mulher recitada.

Eu falo alto, eu como muito.
Eu penso demais e amo orgasticamente

Sou muita, porque não aprendi a ser pouca
E muitas, porque cada um tem a Samelly que cativou.

Sim, espinho e pétala, sei que sou
“eternamente responsável por aquilo que cativo”.

(Meu sangue é latino, minha alma é cativa.)

Entre a lua e o poste, eu sou a luz do vaga-lume
E enquanto divago, se me chamam de ser iluminado
Concordo: pisca-pisca quebrado

“A terra é minha pátria, o céu, o meu teto; a liberdade, minha religião”.
Cigana por identificação. Professora por ideologia.
Mãe e filha por devoção. Poeta por necessidade.
Amiga por vontade.
(Quando) amada por opção.

Bem e mal, sim e não, ying-yang, festa e caixão.
Sorrio para ambos. Até quando choro.

Vim da cidade, passei pelo campo
Minha ambição é plantar girassóis nos cantinhos dos out-doors

Metade do que sou é o que eu fui
A outra metade, é o que vou ser
Por essa lógica, “não sou nada, nunca serei nada,
contrário a isso, tenho em mim todos os sentimentos do mundo”.

Sou o que seus olhos querem/podem/desejam ver
Logo, eu sou seus olhos. E eles brilham.
Por lágrimas ou paixão.

Sou um escândalo!

E tenho aprendido a filosofia do sândalo:

Nas mãos de quem me cuida, me aduba, me cultiva
Me deixo serena, enraizada em risadas

Nas mãos de quem me golpeia, fere e arranca
Deixo a lembrança de um perfume
que só de mim exala.

Samelly Xavier, em julho de 2007

(poema ainda inédito.
POR FAVOR, RESPEITEM OS DIREITOS AUTORAIS!)

quarta-feira, 17 de março de 2010

BANHO MORNO

Para uma criança que me ajuda a equilibrar o morno

Faz muito tempo que eu li, mas continua sendo um dos meus livros preferidos: em "Elogio da Loucura", Rottterdam fala que o homem é um ser movido às emoções e não à razão como querem nos fazer admitir os intelectuais. Isso porque a parte de nosso corpo reservada ao raciocínio (o cérebro) é quase nada se comparada a todo o restante corporal que, segundo o famoso autor, é movido às paixões...

Pois é... Assim como na guerra dos sexos - homens versus mulheres - corintianos versus palmeirenses, católicos versus evangélicos, os extremismos nos impede de ver o encanto do posicionamento equilibrado. E é tão bom não ir nem a oito, nem a oitenta... É tão bom caminhar aos quarenta, nem quente, nem frio, morno.

O que os racionais critica nos emotivos é sua incapacidade de esperar o melhor momento para agir. Os emotivos, de acordo com os racionais, são a expressão máximo do ditado "os apressados comem cru" (mas pelo menos comem - devem argumentar os emotivos). Agir por impulso, no calor da emoção, impede de perceber o efeito em cadeia, as consequências póstumas, nem sempre agradáveis, para as quais, aliás, nenhum emotivo parece estar preparado. Agir de supetão dá ares de super-herói no início, para terminar com olhar de coragem, o cão covarde. A racionalidade, portanto, até mesmo do ponto de vista evolutivo, é a prova viva da inteligência da natureza de fazer o homem sobreviver em suas próprias selvas. Agir com a razão é premeditar, analisar, meditar para escolher sempre o melhor. E de tanto premeditar, analisar e meditar, os racionais não escolhem nada, afinal, como saber, intelectualmente falando, que aquela é a melhor opção? Sempre haverá novas hipóteses a refutar ou não.

O que os emotivos não perdoam aos racionais é sua capacidade de serem pacientes demais, analíticos demais, metódicos demais. "A vida é agora", até o cartão de crédito me diz isso, então, como ousar parar para medi-la em teoremas? Que atrevimento é esse de limitar a vida a somente aquilo que é passível de ser explicado após experimentado? Não, melhor o calor da emoção do que a frieza do raciocínio pragmático, assim pensam os que são emoção à flor da pele. O cérebro não tem flor; só tem frutos. Agir com a emoção é ser intenso, é não ter medo de arriscar, é seguir a tão famosa voz do coração, seja ela gasguita ou não. E de tanto ir na valsa, os emotivos escorregam nos próprios passos apressados. E muitas vezes, enquanto estão no chão, se perguntam se tivessem tido um pouco mais de paciência,se não teriam se poupado mais, não teriam rachado menos o coração. Mas aí, vem a emoção de uma nova emoção e já não há tempo para as hipóteses racionalistas. Corre que a vida está com pressa.

E assim os rótulos vão sendo pregados e vão nos pregando peças. E eu do alto da minha mais nobre audácia pergunto: quem disse que tem de se escolher entre o frio e o calor? O amor - este mais alto teor de sentimento - sem a razão, é frágil e contemplativo. A sabedoria - esta mais alta altarquia da razão - sem o sentimento, é inflexível e obscura. Quem disse, então, que essas duas casas não devem se avizinhar?. Afinal - vejam só que ironia - frieza demais também queima!

É desejável e esperado o prazer do equilíbrio. O conforto de se banhar em água morna, nem fria, congelada, endurecendo pensamentos que quebram a qualquer nova teoria; nem quente, suando valores que são etéreos demais para serem apreendidos. Convido os emotivos a testarem suas teorias. Convido os racionais a sentirem o gosto das inexplicações. Convido o ser humano a ser "completo de tudo", posto que cérebro e coração são só dois compartimentos distintos, com o propósito certeiro de guardar peças de um mesmo quebra-cabeça inquebrável: a vida e seus encaixes.

Samelly Xavier, sendo morna por escolha

quinta-feira, 11 de março de 2010

SOBRE AS HOMENAGENS


Há uma diferença básica e crucial entre identificação e reconhecimento. E sempre tentei distinguir muito bem essas duas coisas para não me dececpicionar mais do que já tenho facilidade. Sim, é sempre bom (mais pra i.d que pro ego) ser reconhecido, mas é muito, muito melhor ser identificado. Explico: reconheço, por exemplo, que os guitarristas das bandas de rock "pesado" são excelentes músicos, fazem com 6 cordas o que eu não faria com 60. Reconheço, porém não me identifico. Não iria nunca a um show deles.

Reconheço a poesia clássica de Olavo Bilac, ou a contribuição histórica do governo de Collor. Reconheço a importância da ciência estudar à exaustão o que, para o senso comum, é óbvio e claro. Reconheço, mas não daria minha vida por nada disso.

Se me perguntarem porque escrevo, além de uma necessidade indescritível de expressão, esse seria o ponto, a grande sacada: escrevo muito mais para que alguém lá do outro lado da página, lá onde minha palavra foi parar, se identifique comigo. Mesmo que não reconheça meu (cof, cof) talento. Mesmo que a (cof, cof) crítica não me reconheça a melhor (cof, cof) poeta do século. Mesmo que meus (cof, cof) livros não ganhem, em reconhecimento ao meu trabalho, o (cof, cof) prêmio da vez.

Escrevo para que eu e o leitor suposto nos assustemos ao saber: eu, que ele sentia igual a mim; ele, que havia um correspondente do sentimento dele fora dele. Escrevo, pois, muito mais para as mãos entrelaçadas do que para os aplausos. O que não quer dizer - é claro - que o reconhecimento não tenha lá seu charme blassé.

Toda homenagem, no seu sentido mais restrito de condecorações e manifestações de apreço ao senhor diretor, tem muito mais a ver com reconhecimentos do que com indentificações. Ano passado, os alunos do 5º ano do ensino fundamental da escola onde estudei a vida quase toda (inclusive o meu 5º ano do ensino fundamental!) me prestou uma homenagem, com direito a entrevistas, fotos e recitações dos meus poemas por vozes doces e zelo indescritível da professora Adriana. Eu ainda não me sinto preparada para transformar em palavras tudo o que senti naquele dia. Mas de já adianto: o que me fez derramar lágrimas, sorrindo, não foi os "autógrafos", nem os tchaus de miss que faziam parte da situação. Foi a i-den-ti-fi-ca-ção daquelas crianças com alguns dos meus textos. As risadas que davam com meus trocadilhos infames, a curiosidade sobre minhas paixões a cada poema "de amor" por eles lido... A melhor parte de toda aquela sala, pintada de vermelho cor de gargalhada, era quando cada menino e menina de lá me procurava dizendo: "ei, eu adorei esse teu poema aqui", "esse teu texto me lembrou uma vez que eu...". Isso é impagável, indescritível e por mais clichê ou paradoxal que pareça não cabe em palavras...

Amanhã, às 8h30 estarei em outro colégio, no CAD convidada pelo colega de profissão Fábio Rolim para encerrar a "Semana da Poesia". Espero mesmo não encerrá-la, mas prorrogá-la por mais quantas semanas aguentarem ver a beleza de enxergar além da vitrine de cada palavra. Novamente, não o reconhecimento, mas a identificação pressuporá fortes emoções. Uma já de cara inefável: os alunos que estarão me "estudando" são hoje alunos da minha ex e amada professora Grace Cordeiro. É nessas horas em que eu mostro ao tempo quem é que manda. Imaginem só: uma das maiores responsáveis por eu ter querido ser professora estará orientando e organizando seus alunos para me prestarem uma homenagem. Não sei ao certo o que estão "aprontando" por lá, mas não precisava de mais nada. O enredo por si só já é bonito demais. Além de Grace, minha querida professora da quinta série, Janete França, também estará por lá dividindo abraços conosco, certamente.

Que amanhã ou em quantas "homenagens" ainda vierem, não me falem de rimas ricas porque não sou burguesa, nem da qualidade estética dos meus textos porque não sou arquiteta. Que não me deem parabéns por nada demais. Que se tiverem de me parabenizar seja por verem em mim o que - muito além de selo de qualidade - é espelho no olhar sorridente alheio. Porque a maior homenagem que se pode fazer a alguém é querer-lhe bem, de forma espontânea e apartidária.

Samelly Xavier, escolhendo seu Oscar

quarta-feira, 3 de março de 2010

NOVIDADES LITERÁRIAS


Pode parecer demagogia (quem se importa?) mas eu nunca me acostumei direito com esse negócio de ser chamada de POETA. Costumo dizer que acredito e reverencio na poesia, mas nos poetas não. Não sei se se nasce assim. Na verdade, creio que - por mais clichê que pareça - o tal poeta tem muito mais a ver com estado de espírito do que com crachá autenticado na sociedade oficial dos poetas anônimos.

Em todo caso, como diz o adorado Oswaldo Montenegro "não é nada disso que eu ia falar". O que eu tenho pra falar são duas (praticamente três) notícias mui agradáveis que, embora sobre seus poetas, é uma exaltação à poesia. Isso que me encanta: por mais que a obra seja pessoal e intransferível (ainda bem!), a cada lançamento de livro, a cada evento literário é a poesia, é a beleza da poesia que eu quero assistir e aplaudir. E assim sendo, tenho dois convites pra vocês:

Primeiro: amanhã, dia 4 de março, às 19h45, o Núcleo Literário Blecaute (responsáveis por uma revista eletrônica de poesia que eu tive o prazer de participar na primeira edição), estará lançando dois livros lá no CEDUC I. O livro "Ofício de engordar sombras" tive o prazer de ler ainda em estado de feto, quando eu e Bruno Gaudêncio (seu autor) iniciamos uma comunicação via e-mails (já não se fazem poetas como antigamente, tá vendo?) cheia de achismos líricos que é sempre bom de ter. Digo achismos porque sempre que alguém me pede pra ler e opiniar sobre sua poesia (como o Bruno fez) eu sempre falo que nem sou, nem quero ser crítica literária, e que falo de versos mais por identificação do que por didatismo.

O outro livro, "O Vermelho das Hóstias Brancas" é do querido João Matias, com quem - entre um seminário e outro - eu sentava nos bancos do bloco BC pra descobrir que se pode ter paixões intensas pela mesma arte, mas por caminhos completamente diferentes. João é o tipo de escritor "responsável", que eu diria até - para fazer alusão ao título dos livros seu e do seu amigo - engorda os versos como um ofício sagrado. Admiro a disciplina com que escreve. Admiro e não compartilho. Sou um caos, como alguns já sabem. Não compartilho e ainda assim temos sempre papos muito ricos de lirismo. Aos dois amigos, "toda poesia que houver nessa vida e algum trocado pra dar garantia"!

A outra novidade é a Flibo (http://flibo2010.blogspot.com/) a feira literária de Boqueirão organizada por ninguém mais, ninguém menos do que a queridíssima Mirtes Waleska. Pela forma como encara e age com a poesia, sou fã dessa moça bonita. Estarei por lá no domingo (dia 21) divulgando meus filhos literários. Os meninos - João e Bruno - estarão na sexta, lançando por lá também suas obras. Combinei com a Mirtes, ainda, de aproveitar o evento para reiterar a campanha ESQUEÇA UM LIVRO PARA ALGUÉM. Serão 20 livros esquecidos propositadamente lá na FLIBO, para nos relembrar, num evento tão especial, que esquecer pode servir para encontrar.

Por fim, não é um convite, mas um agradecimento público. o jornalista e escritor Mário Gerson (editor do jornal Gazeta do Oeste, lá no Rio Grande do Norte, http://www.gazetadooeste.com.br) é sempre muito solítico e bondoso com minhas publicações. Anda fazendo "propaganda" do novo livro já em sua coluna e semana passada publicou um texto aqui do blog por lá. A palavra "obrigada", Mário, não é poética, mas faz as vezes de ser por falta de outra ainda inexistente.

Novidades literárias são sempre bem-vindas. Não é à toa a frase do poeta (seja lá o que for isso): "a poesia é a eterna novidade do mundo".

Beijos recitados,
Samelly Xavier