sexta-feira, 16 de setembro de 2011

POUT-PORRI SOBRE A VIDA





Dedicado a Danielle Nóbrega por conversar e abraçar.
A Magnólia Cruz, porque concorda comigo e almoça também.
A Gui, Dé e P.Sherman por me aguentarem e amarem
(não necessariamente nesta mesma ordem).
A ele, que não vai ler.
A ela, que me ensinou a escrever.


Como não é novidade, eu sempre fui da turma do peso pesado. No corpo, na alma, nos relacionamentos. No meu coração cabe tanto amor que meu corpo deve transformar em gordura para justificar os quinze quilos que ganhei do ano passado pra cá. Como não é novidade, eu sou mulher. E isso faz toda diferença. Eu não sou outra coisa a não ser mulher, em tempo integral. Mulher que dirige bem ( carro e a vida), obrigada, mas não sabe direita-esquerda; mulher que chora para não ir e reclama porque ficou; mulher que com um olhar entende tudo, até mesmo o que o outro nem sabe que quis dizer.

E é no pedestal de mulher, que depois de tantas mudanças eu queria fingir que tenho 90 anos e estou à beira do último pronunciamente antes da morte para poder falar, com pompa e atenção, algumas coisas bem sérias, bem importantes, bem inúteis pra que não for capaz de sentir.

Primeira delas: descobri recentemente que nós nunca estamos nos lugares, nós estamos com as pessoas. Sim, eu que sempre reclamei por não viajar o tanto que eu sempre queria; eu que sempre fui a super-protegida da mamãe andei meio solta pelo mundo; pelas ruas de cidades estranhas que não comportam um pingo da minha história. Resultado? Entrei em loja, saí de museu, tirei foto em hotel só pra descobrir que a melhor viagem do mundo é abrir a porta da nossa casa pros nossos amigos. Certa vez perguntaram a minha mãe qual o lugar do mundo que ela julgava mais bonito: "o terraço da minha casa" foi a resposta. "Não, do mundo", insistiu a repórter. "Exatamente" com a precisão típica da minha mãe. Insustentável genética das almas. Gostaria de confessar, pois, que troco Paris no Natal pelas conversas e risadas no meu terraço.Estejam convidados.

Segunda delas: somos menores do que a vida. Sei que parece frase retirada diretamente dos livros de auto-ajuda. O fato é que, com um pasmo indizível, simplesmente percebi que a vida é muito maior do que eu. E que o irrepetível do dia vai se dar indiferente à minha existência. Porque a questão é a seguinte: por mais que eu não queira, ela está doente. Por mais que eu me incomode, elas mentiram pra mim. Por mais que eu dê minha opinião, eles não entendem. Por mais indignação que me dê, você foi embora. E eu não posso fazer absolutamente nada se não aceitar que a primavera está de novo, pontualmente, se aproximando. A vida fica mais leve quando você nem se deixa levar pela maré, nem se coloca sempre contra correnteza. Depois de trinta lágrimas, quinze orações e 3 porres, você descobre que é só, e simplesmente só, fazer a única coisa que nenhum outro ser humano poderá fazer por você: viver a SUA vida e estar de mãos abertas para quem quiser lhe acompanhar. E deixá-las ainda abertas para quem quiser seguir outros rumos. Mas, por favor, não se perca.

Terceira delas: ria quem quiser; zombe quem achar que pode, mas eu vou continuar defendendo o amor como a única (eu disse ú-ni-ca) coisa pela qual vale a pena viver. O amor como solução para nosso complexo de tédio. O amor como senha para suportar o vazio das inexplicações. Acho que nós não conquistamos amor; o amor é que nos conquista. Estamos lá, incrédulos, assobiando para o nada, daí vem uma criança e nos abraça, vem um vô e sorri, vem uma borboleta e pousa mesmo na sua cama, vem uma rosa amarela e desabrocha depois da chuva, vem seu amigo e diz que ou você pára de chorar ou ele vai embora, vem a vida e samba na nossa cara dizendo "eu estou aqui, dá pra olhar pra mim?" e aí descobrimos que a vida é tão egoísta que só aceita a si mesma; e tão altruísta que nos permite cuidar dela, no status de honra.

Por fim, para parecer mesmo que cheguei aos noventa anos com o mais sério pronunciamento, meu último pedido: por favor, parem de procurar o fim que justificam os meios: a vida acaba hoje, o fim do mundo é agora. Eu morri umas cinco vezes só hoje à tarde. E esse texto teve seu final lá pela sétima linha. Isso tudo porque amar não se dá de vez em quando. O amor é de vez. A vida idem. E quando entendermos isso, o Tempo abençoa.

Amém!

Samelly Xavier, em pleno hiato e plena.