quarta-feira, 1 de setembro de 2010

SETEMBRO


Eu preciso que setembro comece com a promessa da rima das flores. Eu preciso, de novo, na dinâmica da vida, ver a primavera chegar, toda faceira, parecendo uma menininha serelepe como me disse Quintana.

Eu preciso me sentir em eco, mas não em oco. E desinstalar de mim tudo que não for vontade de crescimento, tudo que não for edificante como um girassol.

Eu preciso rir das preocupações, ninar as angustias, vomitar com alívio as mínimas perturbações. Afinal, setembro chegou e eu preciso da primeira rosa que brotar, para assistir ao parto do cio do mundo.

Eu preciso de abraçar uma árvore como se fosse dia das Mães e eu fosse filha da Mãe Natureza. Eu preciso de ver um beija-flor beijar outro beija-flor só pra eu acreditar que além de redundante, a vida é alimentável de afetos.

Eu preciso ter meus olhos no céu, meus pés no chão e meu coração no horizonte, como quem sabe o que quer, como quem sabe o que não quer e como quem sabe querer. Preciso aprender mais com a natureza, sempre tão igual e irrepetível, a mesma Primavera é sempre outra e o sol que amanhece pontualmente todos os dias traz sempre novo calor.

Minhas roseirinhas miúdas e tímidas, já que eu não gosto de concorrência, estão ali no meu quintal, uma é branquinha feito a paz e outra vermelhinha que nem o amor, e eu me confesso a elas só para que quando os espinhos perfurem eu me sinta em penitência. A última confissão foi bem assim: rosinha, eu não sei o que sentir; se for pra acusar, tenho todas as provas, se for pra defender tenho todos os motivos.e ela me respondeu com uma folha amarela e caída que virou adubo e me lembrou que a vida só sabe se transformar se for pra melhor.

O que eu mais tenho de aprender no meu setembro de todo dia é que uma planta se cativa aos poucos e se arranca numa dor só. Vou colocar um lembrete na geladeira: não esquecer de não cativar tudo de uma vez só; não esquecer muito menos de não arrancar de pouquinho. Ou todas as pétalas devolvidas, ou cada espinho retirado. Não combina com este céu de setembro a indecisão de uma planta seca e viva.


Samelly Xavier (texto inédito, favor respeitar direitos autorais)