sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

UMA LUZ CHAMADA DECEPÇÃO



O que mais me cansa nas decepções

é o fato delas serem suportáveis

Toda decepção (e a gente só devia ter uma)

deveria ser brutal, avassaladora, impossível


Esta única, toda nossa, decepção deveria ser

a linha que separa a vida da morte

Seria um quase morrer, jamais uma quase vida (isso que temos)


Decepções deveriam ser incandescentes

E como ordinários Paulos de Tarsos,

Cegaríamos para podermos vê-las

Vê-las serem apagadas e jamais re-acesas

Vê-las como velas.

Samelly Xavier( no livro ETC, favor respeitar direitos autorais)

1 Comment:

André Badé said...

Morremos aos poucos. Com o passar das horas o corpo envelhece, as pessoas (como seres humanos imperfeitos) nos decepcionam, as folhas do caderno acabam, a ponta do lápis termina, o contrato com o emprego expira...
E todas juntas (e com outras) essas dores são suportáveis porque vivemos aos poucos...
A vida é cheia de idas e vindas, encontros e desencontros, tempos curtos e tempos longos
Por isso, não se vive sem morrer, pois as duas são irmãs em um tempo natural, que apenas uma tal permissão poética nos permite desobedecer.
Ainda assim, no final do livro, vida e morte caem de gota em gota em nosso poço, até o próprio transbordar.