terça-feira, 27 de outubro de 2009

ESPANTOS E COCHILOS...




"E o amor em momentos assim

Morre um pouquinho mais
E ao morrer então é que se vê
Que quem morreu fui eu e foi você

Pois sem amor estamos sós

Morremos nós..."



Muito fácil amar. Encontrar alguém que compartilhe dois ou três pensamentos-chave e arregalar os olhos toda vez que o pequeno detalhe revelar uma sintonia de aparência gigantesca. Aquele caso típico dos primeiros dias de namoro em que o sabor do sorvete é o mesmo e os dois pronunciam a mesma palavra, ao mesmo tempo a cada três minutos.

Muito fácil deixar de amar. Se desencontrar com alguém. Querer caramelo com napolitano e ele trazer coco e amendoim porque esse sempre foi seu sabor preferido. Um perigo constante se contentar (se limitar) com o "de sempre". E a única palavra dita em uníssono é "oi/tchau".

Um dos meus casais preferidos se separaram. Gostava da infantilidade deles. Do crescimento mútuo deles. Da teimosia deles. Do "tanto faz" deles. Gostava de vê-los carrancudos quando brigavam e todo sorrisos quando a raiva leviana passava. Gostava de ouvir suas opiniões maniqueístas sobre o amor: quem ama não trai jamais; o verdadeiro amor dura para sempre; só existe um amor verdadeiro... Não gostei, pois, de ver tão facilmente quebrado seus exageros românticos.

Sim, é verdade o que disseram os adultos. Um dia o amor se quebra, a lágrima e o chão se solidarizam da nossa dor e o pensamento muda quase completamente. A parte mentirosa é que isso não significa que o amor não existe. Entre a dor de um amor acabado e a esperança do novo amor a chegar, sempre preferi a segunda opção. Não é otimismo, é questão de sobrevivência. Seria muito triste deixar virar metastase a célula podre que faz o grandioso se apequenar.

Sou assumidamente exagerada. Sou quase uma pastora do rebanho da teoria do caos. Acredito que o amor nasce de um susto e morre de um cochilo. Você pode estar no meio da feira, comprando o arroz mais barato, de repente a lembrança dele(a) o invade e - espanto! - você se descobre amando, você sente tamanha verdade dentro do coração. No ônibus, a senhora do lado estranha seu sorriso bobo e você nem se apercebe! Tem vontade de correr pelo super-mercado e de rasgar o saco de arroz, já prenunciado suas núpcias...

Já o contrário não é tão de estalo. O amor morre num cochilo. O sono faz você ver as coisas nubladas, faz você não estar inteiro para enxergar com toda a integridade que merece o amor e ao cochilar... o charuto cai da boca, se esparrama no sofá novo e - ploc! - o amor vira cinza. Lembro muito da famosa frase do famoso filme: "Eu teria te amado por minha vida inteira". Não duvide nem chore ao ouvir - se ouvir - um dia essa frase. É verdade. É simples como toda verdade o é: é possível acontecer, é desejável que aconteça, mas não acontece.

Não acontece e procura-se logo um culpado porque nos filmes e na vida queremos sempre um vilão para culpar. Mas não, não há vilão. Há vilas. Atalhos desencontrados, eu diria. Um dia você está ocupado demais para o abraço, no outro apressado demais para ouvir segredos de liquidificador, na sexta um quer a festa o outro a rede... O ruído vai ganhando força, a sintonia vai parecendo bobagem.

Uns pecam por silêncio - "ah, isso é besteira, vou nem comentar" -, outros por gritos constante - "de novo, você (me) esqueceu, de novo?". Os dois se aborrecem. Os dois criam barreiras e lamas. Os dois vão virando cada vez mais estranhos um do outro. Daí porque tantos casais casados há 30 anos se perguntam onde foi parar a doce menina e o rapaz sonhador que um dia foram. Não é triste apenas não enxergar mais no outro o outro. É triste, bem triste, não se enxergar mais no (olhar do) outro.

Um dos meus casais preferidos viraram de novo conjuntos unitários, sem interseção. Ao contrário do que devem pensar por ora, outros amores virão, outros espantos e cochilos. Nem descarto a possibilidade deles mesmos serem um novo amor um para o outro. E quem sou eu para dizer-lhes nada, aconselhar-lhes nada... Eu sou aquela que crê no amor por teimosia, e que todo dia, a cada dia, no final do dia espera a confissão gratuita e espontânea do espanto alimentado. "Nossa, é você que eu amo!" quero ouvir constantemente - pelo ouvido, pelo olhar ou pelos poros. Não me contento, afinal, com o boa noite formal de quem faz do cochilo um ciclo, até que o amor durma o sono eterno do encanto - irremediavelmente - perdido. Triste, poético e tão fácil de acontecer...

Samelly Xavier, indo dormir - a pedidos...

domingo, 11 de outubro de 2009

E por falar em Samelly...


Da primeira vez que fiz um blog, levei mais a sério do que devia a ideia de um "diário virtual". Mesmo disfarçadas sob o manto da arte, minhas confissões, quando relidas, me pareceram mais infantis do que deviam. Nunca escondi minha infantilidade. Nunca fiz questão de não ser infantil. De esconder meu choro no supermercado por não levar o biscoito preferido. Apesar disso, nunca alimentei minha infantilidade. Quero-a na exata porção em que ela me torna quem eu sou: já afirmei muitas vezes, todo riso é infantil. Gosto de gostar de sentar no chão e sujar os pés sem meias. Eu não gosto de (ser) meia.

Este novo blog não é tão diário quanto já foi. Nem no sentido confessionário, tampouco no sentido de todo-dia. Este novo blog é como a roupa do rei: só os inteligentes veem. Agora por exemplo, dois sonhadores - cada qual a sua maneira - me pergunta como vou eu e por onde ando. E tenho vontade de dizer exatamente como vou, mas qual a graça do lirismo com exatidão? Então, vestindo a roupa do rei é que respondo a tal banal e complexa pergunta...

Eu vou como quem quer ir. Não ando indo como quem quer ficar. Às vezes a gente vai, mas vai de ré, ou vai pra frente, mas não resiste a virar o rosto pra trás. Já posso até ter feito isso. Mas não é o caso agora. Agora vou com a imensa vontade de continuar indo. Vou como quem sai do contar até 10 no esconde-esconde e não vê a hora de caminhar logo e encontrar (mais os esconderijos do que os escondidos).

Vou, vou e vou mesmo... Se é pra ir, não vamos de pouco. Continuo insuportando o pouco. Nesse exato momento penso que - por lógica matematicamente infalível - o muito, se não mantido, se permuta num pouco esfarelado. Uma lástima! Já o pouco, coitado, nascido já sob a condição de pouco, este, nem dá tempo... Num piscar de olhos intocáveis ele se transforma em nada. E o nada não me comove.
Continuo sendo toda. Toda utopia, porque se utópico é o lugar que não existe, é lá mesmo que eu quero colonizar. O Brasil só existia pros índios, os quais, por sua vez, inexistiam pra Cabral. Eu quero arriscar onde minha terra vai chegar à vista. Não sou dada aos prazos. Meu tempo é, como sempre, agora.

Continuo bocejando pros lugares-comuns da boca, lábios e línguas do povo. Esse povo todo que me olha como quem aperta minhas bochechas e diz "Nossa, como você cresceu!". Cresci ou vocês diminuiram? Cresci ou só agora vocês se aperceberam do meu mesmo tamanho? Cresci ou esqueceram que eu não sou do tipo que se mede? Se querem saber (e sei que nem querem) não me sinto crescida, me sinto elástica. Sei ainda pular amarelinha e pretendo fazê-lo de tailler quando eu bem entender. Ainda essa semana alguém me lembrava da minha vocação pra rebeldia. Mas, modéstia sem parte, me acho uma rebelde elegante. Não das que levantam placas e gritam, mas das que usam salto alto pra pisar na própria futilidade.

Continuo, enfim, incontínua. Não sei até quando, mas sei que pretendo que demore no mínimo dois décimos de sempre,prolongar em mim essa minha capacidade infantil de sonhar. De me deter ao detalhe, como quem olha não pro olho, mas pra menina que toma conta dele.

Clarice falou que o que ela queria ainda não tem nome. Eu quero e tem nome. O que eu não sei é se tem correspondente fora de mim. A pergunta, pois, não é como eu vou, mas quem quer - e está pronto pra ir todo - comigo.

Samelly Xavier, indo...

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

UMA NOVIDEIA

Vez ou outra, sou abordada por algum olhar curioso: "por que você não fala sobre tal assunto?", "tens algum texto sobre isso e isso?". Sinal que aquela história de identificação com o leitor não só deve funcionar, como pode ser interativa.

Vocês devem lembrar da matéria que a TV Paraíba fez sobre meu blog. Muita gente brincou comigo porque eu falei que a profissão de escritor sempre foi um ato solitário, quase melancólico. Já hoje, basta eu terminar de digitar isso que certamente algum par de olho estará on line para ler.

Eu gosto dos primeiros. De outubro, inclusive. Tenho uma sugestão a quem aqui pousar e vou esperar ela se concretizar para voltar por essas bandas.

Pelo menos por algum tempo, vou publicar aqui textos cujas temáticas sejam sugeridas pelos leitores. Sabe aquela dúvida existencial ou sobre qual roupa ir? O medo de barata ou o medo de não ser amada? A dúvida entre a letra B e C e se os pais vão separar ou não? Enfim... Você que neste momento me lê, sobre o que queria que fosse o próximo texto do São Seus Olhos?

Aguardando sugestões... Deixem nos comentários suas sugestões ou no e-mail livrosdesamellyxavier@gmail.com

Vamos VER...

Beijos recitados a todos!