domingo, 11 de outubro de 2009

E por falar em Samelly...


Da primeira vez que fiz um blog, levei mais a sério do que devia a ideia de um "diário virtual". Mesmo disfarçadas sob o manto da arte, minhas confissões, quando relidas, me pareceram mais infantis do que deviam. Nunca escondi minha infantilidade. Nunca fiz questão de não ser infantil. De esconder meu choro no supermercado por não levar o biscoito preferido. Apesar disso, nunca alimentei minha infantilidade. Quero-a na exata porção em que ela me torna quem eu sou: já afirmei muitas vezes, todo riso é infantil. Gosto de gostar de sentar no chão e sujar os pés sem meias. Eu não gosto de (ser) meia.

Este novo blog não é tão diário quanto já foi. Nem no sentido confessionário, tampouco no sentido de todo-dia. Este novo blog é como a roupa do rei: só os inteligentes veem. Agora por exemplo, dois sonhadores - cada qual a sua maneira - me pergunta como vou eu e por onde ando. E tenho vontade de dizer exatamente como vou, mas qual a graça do lirismo com exatidão? Então, vestindo a roupa do rei é que respondo a tal banal e complexa pergunta...

Eu vou como quem quer ir. Não ando indo como quem quer ficar. Às vezes a gente vai, mas vai de ré, ou vai pra frente, mas não resiste a virar o rosto pra trás. Já posso até ter feito isso. Mas não é o caso agora. Agora vou com a imensa vontade de continuar indo. Vou como quem sai do contar até 10 no esconde-esconde e não vê a hora de caminhar logo e encontrar (mais os esconderijos do que os escondidos).

Vou, vou e vou mesmo... Se é pra ir, não vamos de pouco. Continuo insuportando o pouco. Nesse exato momento penso que - por lógica matematicamente infalível - o muito, se não mantido, se permuta num pouco esfarelado. Uma lástima! Já o pouco, coitado, nascido já sob a condição de pouco, este, nem dá tempo... Num piscar de olhos intocáveis ele se transforma em nada. E o nada não me comove.
Continuo sendo toda. Toda utopia, porque se utópico é o lugar que não existe, é lá mesmo que eu quero colonizar. O Brasil só existia pros índios, os quais, por sua vez, inexistiam pra Cabral. Eu quero arriscar onde minha terra vai chegar à vista. Não sou dada aos prazos. Meu tempo é, como sempre, agora.

Continuo bocejando pros lugares-comuns da boca, lábios e línguas do povo. Esse povo todo que me olha como quem aperta minhas bochechas e diz "Nossa, como você cresceu!". Cresci ou vocês diminuiram? Cresci ou só agora vocês se aperceberam do meu mesmo tamanho? Cresci ou esqueceram que eu não sou do tipo que se mede? Se querem saber (e sei que nem querem) não me sinto crescida, me sinto elástica. Sei ainda pular amarelinha e pretendo fazê-lo de tailler quando eu bem entender. Ainda essa semana alguém me lembrava da minha vocação pra rebeldia. Mas, modéstia sem parte, me acho uma rebelde elegante. Não das que levantam placas e gritam, mas das que usam salto alto pra pisar na própria futilidade.

Continuo, enfim, incontínua. Não sei até quando, mas sei que pretendo que demore no mínimo dois décimos de sempre,prolongar em mim essa minha capacidade infantil de sonhar. De me deter ao detalhe, como quem olha não pro olho, mas pra menina que toma conta dele.

Clarice falou que o que ela queria ainda não tem nome. Eu quero e tem nome. O que eu não sei é se tem correspondente fora de mim. A pergunta, pois, não é como eu vou, mas quem quer - e está pronto pra ir todo - comigo.

Samelly Xavier, indo...

9 Comments:

Valdenio said...

Continuo, enfim, incontínua!!

Sempre a gente conserva a mudança. Só acho que azeitonas em conserva não deveriam mudar nunca.

´´Então, vestindo a roupa do rei é que respondo a tal banal e complexa pergunta... ``

Espero que voce roa a monotonia monografica. !!!!

aluah said...

lindo, samelly! queria eu poder falar de mim mesma como o fazes tu!

Anônimo said...

Criatura infante, feliz dia das "crionças".

Beijo!

Sidney Andrade said...

Eu quero ir indo (com redundância e tudo) com você, você indo como for (de carro ou de mau humor). Amo (com três letras maiúsculas).

Unknown said...

Quem me dera ter ao menos 1/3 desse talento!
Perfeito Samelly!
Como sempre, me deleito nas suas palavrinhas...

Sabrina Davanzo said...

Samelly, obrigada pela visita ao Inverso. Muito lindo teu blog viu? Adorei teu espaço.

Beijos!

Sabrina

Rousiane said...

"Mas muito pra mim é tão pouco
E pouco é um pouco demais" ♪

Tava lendo o texto [na qualidade de sonhadora a minha maneira] e só conseguia imaginar Samelly à lá Pessoa, com todas as contradições possíveis

"Depois de parar de andar,
Depois de ficar e ir,
Hei de ser quem vai chegar
Para ser quem quer partir".


Já que é pra ir... eu topo , pq não? kkkkkkkkkkkk

Onde sou o que penso... said...

Vá, vá, vá
Go, go, go

Pra qualquer lugar...
Você pode chegar onde quizer, mas não esqueça que eu preciso desse blog. Então vá, mas me faça o favor de não sumir com suas palavras, vá sozinha e as deixe sempre aqui!

abraços

Silvia said...

amor-próprio, aceitação, e querer bem por completo.
Voc~e se entende perfeitamente para expor o que quer, ser criança ou não. Falar ou ficar quieta.

O que eu quero ainda não tem nome, se tem, não descobri.

Um beijo.
Voltarei.