"E o amor em momentos assim
Morre um pouquinho mais
E ao morrer então é que se vê
Que quem morreu fui eu e foi você
Pois sem amor estamos sós
Morremos nós..."
Muito fácil amar. Encontrar alguém que compartilhe dois ou três pensamentos-chave e arregalar os olhos toda vez que o pequeno detalhe revelar uma sintonia de aparência gigantesca. Aquele caso típico dos primeiros dias de namoro em que o sabor do sorvete é o mesmo e os dois pronunciam a mesma palavra, ao mesmo tempo a cada três minutos.
Muito fácil deixar de amar. Se desencontrar com alguém. Querer caramelo com napolitano e ele trazer coco e amendoim porque esse sempre foi seu sabor preferido. Um perigo constante se contentar (se limitar) com o "de sempre". E a única palavra dita em uníssono é "oi/tchau".
Um dos meus casais preferidos se separaram. Gostava da infantilidade deles. Do crescimento mútuo deles. Da teimosia deles. Do "tanto faz" deles. Gostava de vê-los carrancudos quando brigavam e todo sorrisos quando a raiva leviana passava. Gostava de ouvir suas opiniões maniqueístas sobre o amor: quem ama não trai jamais; o verdadeiro amor dura para sempre; só existe um amor verdadeiro... Não gostei, pois, de ver tão facilmente quebrado seus exageros românticos.
Sim, é verdade o que disseram os adultos. Um dia o amor se quebra, a lágrima e o chão se solidarizam da nossa dor e o pensamento muda quase completamente. A parte mentirosa é que isso não significa que o amor não existe. Entre a dor de um amor acabado e a esperança do novo amor a chegar, sempre preferi a segunda opção. Não é otimismo, é questão de sobrevivência. Seria muito triste deixar virar metastase a célula podre que faz o grandioso se apequenar.
Sou assumidamente exagerada. Sou quase uma pastora do rebanho da teoria do caos. Acredito que o amor nasce de um susto e morre de um cochilo. Você pode estar no meio da feira, comprando o arroz mais barato, de repente a lembrança dele(a) o invade e - espanto! - você se descobre amando, você sente tamanha verdade dentro do coração. No ônibus, a senhora do lado estranha seu sorriso bobo e você nem se apercebe! Tem vontade de correr pelo super-mercado e de rasgar o saco de arroz, já prenunciado suas núpcias...
Já o contrário não é tão de estalo. O amor morre num cochilo. O sono faz você ver as coisas nubladas, faz você não estar inteiro para enxergar com toda a integridade que merece o amor e ao cochilar... o charuto cai da boca, se esparrama no sofá novo e - ploc! - o amor vira cinza. Lembro muito da famosa frase do famoso filme: "Eu teria te amado por minha vida inteira". Não duvide nem chore ao ouvir - se ouvir - um dia essa frase. É verdade. É simples como toda verdade o é: é possível acontecer, é desejável que aconteça, mas não acontece.
Não acontece e procura-se logo um culpado porque nos filmes e na vida queremos sempre um vilão para culpar. Mas não, não há vilão. Há vilas. Atalhos desencontrados, eu diria. Um dia você está ocupado demais para o abraço, no outro apressado demais para ouvir segredos de liquidificador, na sexta um quer a festa o outro a rede... O ruído vai ganhando força, a sintonia vai parecendo bobagem.
Uns pecam por silêncio - "ah, isso é besteira, vou nem comentar" -, outros por gritos constante - "de novo, você (me) esqueceu, de novo?". Os dois se aborrecem. Os dois criam barreiras e lamas. Os dois vão virando cada vez mais estranhos um do outro. Daí porque tantos casais casados há 30 anos se perguntam onde foi parar a doce menina e o rapaz sonhador que um dia foram. Não é triste apenas não enxergar mais no outro o outro. É triste, bem triste, não se enxergar mais no (olhar do) outro.
Um dos meus casais preferidos viraram de novo conjuntos unitários, sem interseção. Ao contrário do que devem pensar por ora, outros amores virão, outros espantos e cochilos. Nem descarto a possibilidade deles mesmos serem um novo amor um para o outro. E quem sou eu para dizer-lhes nada, aconselhar-lhes nada... Eu sou aquela que crê no amor por teimosia, e que todo dia, a cada dia, no final do dia espera a confissão gratuita e espontânea do espanto alimentado. "Nossa, é você que eu amo!" quero ouvir constantemente - pelo ouvido, pelo olhar ou pelos poros. Não me contento, afinal, com o boa noite formal de quem faz do cochilo um ciclo, até que o amor durma o sono eterno do encanto - irremediavelmente - perdido. Triste, poético e tão fácil de acontecer...
Muito fácil deixar de amar. Se desencontrar com alguém. Querer caramelo com napolitano e ele trazer coco e amendoim porque esse sempre foi seu sabor preferido. Um perigo constante se contentar (se limitar) com o "de sempre". E a única palavra dita em uníssono é "oi/tchau".
Um dos meus casais preferidos se separaram. Gostava da infantilidade deles. Do crescimento mútuo deles. Da teimosia deles. Do "tanto faz" deles. Gostava de vê-los carrancudos quando brigavam e todo sorrisos quando a raiva leviana passava. Gostava de ouvir suas opiniões maniqueístas sobre o amor: quem ama não trai jamais; o verdadeiro amor dura para sempre; só existe um amor verdadeiro... Não gostei, pois, de ver tão facilmente quebrado seus exageros românticos.
Sim, é verdade o que disseram os adultos. Um dia o amor se quebra, a lágrima e o chão se solidarizam da nossa dor e o pensamento muda quase completamente. A parte mentirosa é que isso não significa que o amor não existe. Entre a dor de um amor acabado e a esperança do novo amor a chegar, sempre preferi a segunda opção. Não é otimismo, é questão de sobrevivência. Seria muito triste deixar virar metastase a célula podre que faz o grandioso se apequenar.
Sou assumidamente exagerada. Sou quase uma pastora do rebanho da teoria do caos. Acredito que o amor nasce de um susto e morre de um cochilo. Você pode estar no meio da feira, comprando o arroz mais barato, de repente a lembrança dele(a) o invade e - espanto! - você se descobre amando, você sente tamanha verdade dentro do coração. No ônibus, a senhora do lado estranha seu sorriso bobo e você nem se apercebe! Tem vontade de correr pelo super-mercado e de rasgar o saco de arroz, já prenunciado suas núpcias...
Já o contrário não é tão de estalo. O amor morre num cochilo. O sono faz você ver as coisas nubladas, faz você não estar inteiro para enxergar com toda a integridade que merece o amor e ao cochilar... o charuto cai da boca, se esparrama no sofá novo e - ploc! - o amor vira cinza. Lembro muito da famosa frase do famoso filme: "Eu teria te amado por minha vida inteira". Não duvide nem chore ao ouvir - se ouvir - um dia essa frase. É verdade. É simples como toda verdade o é: é possível acontecer, é desejável que aconteça, mas não acontece.
Não acontece e procura-se logo um culpado porque nos filmes e na vida queremos sempre um vilão para culpar. Mas não, não há vilão. Há vilas. Atalhos desencontrados, eu diria. Um dia você está ocupado demais para o abraço, no outro apressado demais para ouvir segredos de liquidificador, na sexta um quer a festa o outro a rede... O ruído vai ganhando força, a sintonia vai parecendo bobagem.
Uns pecam por silêncio - "ah, isso é besteira, vou nem comentar" -, outros por gritos constante - "de novo, você (me) esqueceu, de novo?". Os dois se aborrecem. Os dois criam barreiras e lamas. Os dois vão virando cada vez mais estranhos um do outro. Daí porque tantos casais casados há 30 anos se perguntam onde foi parar a doce menina e o rapaz sonhador que um dia foram. Não é triste apenas não enxergar mais no outro o outro. É triste, bem triste, não se enxergar mais no (olhar do) outro.
Um dos meus casais preferidos viraram de novo conjuntos unitários, sem interseção. Ao contrário do que devem pensar por ora, outros amores virão, outros espantos e cochilos. Nem descarto a possibilidade deles mesmos serem um novo amor um para o outro. E quem sou eu para dizer-lhes nada, aconselhar-lhes nada... Eu sou aquela que crê no amor por teimosia, e que todo dia, a cada dia, no final do dia espera a confissão gratuita e espontânea do espanto alimentado. "Nossa, é você que eu amo!" quero ouvir constantemente - pelo ouvido, pelo olhar ou pelos poros. Não me contento, afinal, com o boa noite formal de quem faz do cochilo um ciclo, até que o amor durma o sono eterno do encanto - irremediavelmente - perdido. Triste, poético e tão fácil de acontecer...
Samelly Xavier, indo dormir - a pedidos...