Ele me olhou hoje em meio aos meus segredos derramados na poeira e disse: não sei como você agüenta tanto papel. Tive vontade de lembrar-lhe que é mesmo muito papel para pouca mulher: às vezes sou cidadã, outras poetisa; há quem me queira menina, há quem me grite mulher; cansada de ser filha, com medo de ser mãe....
Ele me ouviu em meio a poeira do dia e disse: tiro o chapéu pra você! Só porque, filosofando, nos lembramos que eu sou da lua e só tem um jeito de colonizá-la: indo até ela. E se a lua for só um asteróide como todos já me disseram? Oras, o Pequeno Príncipe que não me deixe mentir: tanto faz, tanto faz, são tantas luas que Quintana me apresentou. Se eu chegar até a lua e a lua for a lua, quero que todos os que eu amo se deleitem comigo no cavalo de seu jorge; se a lua for mesmo só um asteróide, não me incomodo: foi tanto brilho de estrela que incorporei pra poder chegar até lá... É bom pular corda nas estrelas, apesar dos pesares...
Ele me abraçou, sem poeira, mas com alma, entre lágrimas indizíveis e me lembrou que eu sou eu, ele é ele e nós somos eles. No seu abraço-ninho relembrei verdades perdidas: passarinho que voa demais cansa; passarinho que fica parado faz um ninho. Ninho sem cansaço não tem sabor; cansaço sem ninho não justifica o vôo. Um dia um sábio passarinho há de conseguir voar e fazer ninho para a alegria geral da lua e suas comparsas estrelas.
A terceira pessoa do singular é tão única que me faz múltipla.