quarta-feira, 17 de março de 2010

BANHO MORNO

Para uma criança que me ajuda a equilibrar o morno

Faz muito tempo que eu li, mas continua sendo um dos meus livros preferidos: em "Elogio da Loucura", Rottterdam fala que o homem é um ser movido às emoções e não à razão como querem nos fazer admitir os intelectuais. Isso porque a parte de nosso corpo reservada ao raciocínio (o cérebro) é quase nada se comparada a todo o restante corporal que, segundo o famoso autor, é movido às paixões...

Pois é... Assim como na guerra dos sexos - homens versus mulheres - corintianos versus palmeirenses, católicos versus evangélicos, os extremismos nos impede de ver o encanto do posicionamento equilibrado. E é tão bom não ir nem a oito, nem a oitenta... É tão bom caminhar aos quarenta, nem quente, nem frio, morno.

O que os racionais critica nos emotivos é sua incapacidade de esperar o melhor momento para agir. Os emotivos, de acordo com os racionais, são a expressão máximo do ditado "os apressados comem cru" (mas pelo menos comem - devem argumentar os emotivos). Agir por impulso, no calor da emoção, impede de perceber o efeito em cadeia, as consequências póstumas, nem sempre agradáveis, para as quais, aliás, nenhum emotivo parece estar preparado. Agir de supetão dá ares de super-herói no início, para terminar com olhar de coragem, o cão covarde. A racionalidade, portanto, até mesmo do ponto de vista evolutivo, é a prova viva da inteligência da natureza de fazer o homem sobreviver em suas próprias selvas. Agir com a razão é premeditar, analisar, meditar para escolher sempre o melhor. E de tanto premeditar, analisar e meditar, os racionais não escolhem nada, afinal, como saber, intelectualmente falando, que aquela é a melhor opção? Sempre haverá novas hipóteses a refutar ou não.

O que os emotivos não perdoam aos racionais é sua capacidade de serem pacientes demais, analíticos demais, metódicos demais. "A vida é agora", até o cartão de crédito me diz isso, então, como ousar parar para medi-la em teoremas? Que atrevimento é esse de limitar a vida a somente aquilo que é passível de ser explicado após experimentado? Não, melhor o calor da emoção do que a frieza do raciocínio pragmático, assim pensam os que são emoção à flor da pele. O cérebro não tem flor; só tem frutos. Agir com a emoção é ser intenso, é não ter medo de arriscar, é seguir a tão famosa voz do coração, seja ela gasguita ou não. E de tanto ir na valsa, os emotivos escorregam nos próprios passos apressados. E muitas vezes, enquanto estão no chão, se perguntam se tivessem tido um pouco mais de paciência,se não teriam se poupado mais, não teriam rachado menos o coração. Mas aí, vem a emoção de uma nova emoção e já não há tempo para as hipóteses racionalistas. Corre que a vida está com pressa.

E assim os rótulos vão sendo pregados e vão nos pregando peças. E eu do alto da minha mais nobre audácia pergunto: quem disse que tem de se escolher entre o frio e o calor? O amor - este mais alto teor de sentimento - sem a razão, é frágil e contemplativo. A sabedoria - esta mais alta altarquia da razão - sem o sentimento, é inflexível e obscura. Quem disse, então, que essas duas casas não devem se avizinhar?. Afinal - vejam só que ironia - frieza demais também queima!

É desejável e esperado o prazer do equilíbrio. O conforto de se banhar em água morna, nem fria, congelada, endurecendo pensamentos que quebram a qualquer nova teoria; nem quente, suando valores que são etéreos demais para serem apreendidos. Convido os emotivos a testarem suas teorias. Convido os racionais a sentirem o gosto das inexplicações. Convido o ser humano a ser "completo de tudo", posto que cérebro e coração são só dois compartimentos distintos, com o propósito certeiro de guardar peças de um mesmo quebra-cabeça inquebrável: a vida e seus encaixes.

Samelly Xavier, sendo morna por escolha

5 Comments:

Edmilson Almeida. said...

Quando o chuveiro está ligado no (muito) quente e entramos debaixo d'agua, é quase automático... "Eitá! Tá depenando galinha, é?". Então partirmos para o morno.

Na outra oportunidade, quando, até por medo da vez anterior, colocamos o chuveiro no "frio", é inerente pensarmos que nosso corpo está congelando e vai se partir em mil pedacinhos! Então partirmos para o morno.

O morno, portanto, é o equilíbrio, é o lugar comum e calmo, onde podemos nos sentir confortáveis e "em casa". Todavia, o morno não mexe conosco, o morno não causa mudanças, o morno nos vicia a estarmos sempre descansados, o morno, apesar de ser gostoso, nos mantém inertes.

O equilíbrio é necessário em tudo, entretanto, é mister que nos lembremos, sempre, do quente e do frio, para nos alertar que o MORNO não é lugar de ser MORTO!

Beijo, Same.

Marcus Pantaleão said...

"(mas pelo menos comem - devem argumentar os emotivos)."


hahahaha Eu ri.

Beijos dum antigo e - embora oculto - assíduo leitor seu.

Danielle Nóbrega said...

Sempre que recebo seu email com um novo post, fico ansiosa pra ver o que vem depois daqueles 3 primeiros parágrafos... e sempre me surpreendo com pensamentos que concordo plenamente.
Estou sendo morna por opção tb!
Beijos, Iluminada!

Eduardo Oliveira said...

Oi Samelly...bom saber que de todas as minhas provocações a você, possa ter surgido algo tão belo, tão bem escrito. Te admiro.

daevidrabbani said...

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