sábado, 29 de outubro de 2011

PELO DIREITO AO BOM HUMOR



Dedicado a Aline Leal, Solon, Alysson e Renan


Pelo direito de enquanto pagar a conta de luz, ser paquerada na fila para sentir, de novo, a energia do ser humano, mesmo quando Mim-Tarzan-Você-Jane. Pelo direito de dançar para celebrar a vida e girar a cabeça e fechar os olhos e sentir-se guiada pela amizade que não abandona, nem no salão, nem na lágrima de antes.

Pelo direito de acordar de meio-dia e não lavar roupa, mesmo o sol estando quente. Pelo direito de sentir o sol quente na sua cara e de não sentir, caso você prefira a sombra. Pelo direito de ouvir eu te amo dos seus amigos, este menos imprevisível do que o eu te amo dos seus amores; este menos afetado, mais consciente, menos preocupado na recíproca já sabida. Pelo direito de sentir o que a letra faz com a poesia quando é o mesmo que o abraço do amigo faz com você.


Pelo direito a dizer o que pensa, na hora que pensa, a deixar os outros constrangidos com tanta transparência que parece nudez e - como se sabe - as pessoas ainda fecham os olhos para não verem almas peladas. Pelo direito a falar palavrão quando alguém vem lhe perguntar porque você é assim. Puta que pariu, eu sou assim porque eu quero; porque eu posso, porque é como eu aprendi a ser; porque foi o saldo de tudo que, inclusive você, fez comigo. E ache bom, cacete!

Pelo direito a orar toda noite e pedir perdão pelos palavrões, não os ditos acima, mas os outros, os enormes, os que não têm nem palavras pra eles. Os palavrões do coração, os palavrões mentais, intraduzíveis em qualquer idioma, aqueles que nos querem fazer quebrar o espelho. Pelo direito ao espelho quebrado só para você perceber como se ver em cacos também ajuda a se ver diferente! Calendoscópio de si mesmo, cada pedaço tão inteiro e exato na sua arte colorida. Pelo direito a chorar em braile pra que ninguém veja e te ache sempre (cof, cof) feliz.


Pelo direito a amar, de novo, o pôr-do-sol porque no colocar-do-sol você ainda tá dormindo e pelo direito de dormir o sono da beleza, afinal. Pelo direito de esquecer o mal humor e ser contraditoriamente ser humano, e ser apaixonadamente ser humano, e ser. Humano.


Pelo direito de escrever como quem dança e dançar como quem escreve. Aqui, eu danço com as letrinhas. Lá no palco, eu me faço letra rabiscando o chão. Pelo direito de ouvir "que bom vê-la de volta!" e de estar mesmo, voltando. Estou sempre às voltas. Estou sempre voltando. Por favor, me recepcionem com os seus melhores sorrisos abre-portas. Sejam bons anfitriões quando eu adentrar suas almas e abrir as malas do meu bom humor cheio de presentes a todos. Temos este direito, inclusive.

Samelly Xavier, voltando